terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O não, teus braços e minha birra

Todas as vezes que os teus NÃOS ecoam nos meus ouvidos começo a agir feito uma criança mimada. Diante de um pedido tão importante aos meus olhos, a reação parecia inevitável. Bato os pés, me jogo no chão e choro repentinamente, fazendo um escândalo, uma tempestade em copo d'água.

Eu quero! Quero agora! Nesse momento!

Com todo o amor que eu jamais conseguiria entender, você me abraça e diz que vai ficar tudo bem. Meus braços inquietos te machucam, meus gritos ecoam nos seus ouvidos e minhas pernas se debatem em agonia na tentativa de que o momento de contrariedade passe mais rápido. Mas o teu abraço, que não consigo sentir enquanto estou em desespero, me envolve. Teu rosto inabalável olha pra mim como a criança que sou e diz que vai ficar tudo bem.

Aos poucos meu soluçar abaixa o tom, aos poucos meu coração desacelera, aos poucos vou me soltando e me desarmo: apenas os teus braços são capazes de me segurar.

"Mas era o meu sonho, era tão bom pra mim!"

Teus olhos fixos nos meus me mostram a verdade que eu jamais ousaria questionar. E então, como criança, sigo sem entender o motivo do não. Aos meus olhos aquilo é simplesmente um abuso de autoridade, uma maldade gigantesca diante de um simples desejo tão puro do meu coração de menina.

Com o passar dos anos, ainda me recordo do não. Ainda lembro quando sumi entre as prateleiras cheias de escolhas e me perdi de você. Estava diante daquilo, atraída por toda aquela beleza, estendendo as mãos como quem recebe o mais precioso dos tesouros, aproveitando cada centímetro de conquista da novidade mas absolutamente alheia aos perigos que ela trazia, exatamente como criança. Distraída. Focada apenas naquele momento, esquecendo de todo o resto. No entanto, com o seu amor tão irresistível, você me chamou de volta. Me abraçou e disse meu nome.

"Sossega criança, você não pode estar no controle de tudo. Deixa que eu decido o que é melhor pra você agora."

Espero, como criança, que um dia entenda o não. Que um dia entenda por que meu coração trapaceou e me enganou mais uma vez, enquanto eu desejava algo que nem sequer estava nos meus planos desejar. Espero que um dia eu me encontre novamente em frente à mesma prateleira e que possa dizer sem medo que o impedimento para que eu me lançasse ao desconhecido desejo do meu coração foi a melhor opção. Foi para meu bem. Sei que a ferida causada por um breve período de tempo cicatriza muito rápido, mas a ferida imputada todos os dias corrói lentamente as esperanças de cicatrização.

Não há dúvidas em meu coração e muito menos em minha razão de que você me ama. De que estará ali para cuidar de mim, mesmo que eu decida agir como criança mimada e descontente: sei que os teus braços estarão ali pra me segurar.  O coração angustiado é sempre o mais sincero e o menos racional nas orações, mas é aí que entram os teus braços... Ah, os teus braços estarão ali, todas as vezes que eu me dispuser a correr na direção deles e é sempre o teu olhar de amor que me traz de volta à razão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário