sexta-feira, 3 de março de 2017

Os sinos

De longe ouço o eco dos sinos colocados em meu coração. Parece um som abafado e distante mas os ecos propagados dentro de mim ainda fazem barulho vez ou outra. As paredes do coração ainda retinem os sons dos sinos insistentes.

Aquele velho sino, empoeirado, enferrujado e o primeiro de todos a dar o ar da graça com suas notas agudas, é enorme e incrivelmente barulhento. Carrega as primeiras ofensas e felizmente não retrata mais nenhum rosto, somente os ecos das palavras indelicadas. Ecoa distante e silencia todas as vezes que olho no espelho e tenho a certeza de que aquelas palavras eram mentiras.

Outro sino, constante, insistente, me diz que não sou capaz. Que nunca faço nada direito, exalta minha incompetência. Retine dizendo que sou um fardo a ser carregado. Esse sino não ecoa mais, tive que escalar sua corda em meio a todos os barulhos ensurdecedores que me rodeavam e cortei-a. Era perigoso demais deixá-la a vista, ao alcance das minhas mãos...

O sino da rejeição, da mágoa de não ter sido digna de esforço, de não ser alguém especial, de não se sentir interessante ecoa sem parar. Suas notas são graves e barulhentas e servem de base para descrença que vem misturada a esses sons. Esse sino ainda ecoa vez ou outra, mas troco a descrença por inspiração e esperança e a melodia se transforma em algo harmonioso e cheio de vida ao invés de desespero.

Por fim, o sino barulhentíssimo do desinteresse, do descompromisso, do desafio de limites alheios soa sem parar. Julgamentos inexatos e maldosos surgem pra fazer com que suas notas tornem a melodia insuportável.

Aprendi a sentar embaixo de todos os sinos e observá-los. O barulho seria ensurdecedor se eu os tocasse de uma só vez. Decidi não me aproximar das cordas, evitando a tentação de balançá-las. Aprendi a não reviver velhos ecos, deixando-os livres para ecoarem na eternidade em forma de uma nova melodia.

Ah os sinos... tenho uma coleção deles, no entanto, aquele "está consumado" soa mais alto do que qualquer coleção particular de sinos egoístas.

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